Conheça um pouquinho mais sobre a trajetória cheia de conquistas e desafios de nossa finalista
Natural de Andradas-MG, Pamela Borguesi Lopes hoje atua em Serra Negra-SP, onde montou sua empresa de lacinhos, a V&P Acessórios Pet, banho e tosa e escola de grooming, a Lopes Groom e o pet shop Dimy Pet, negócios que administra com seu sócio e marido Vanderlei Lopes. Conhecida no meio por suas conquistas em competições, a groomer teve uma origem simples, uma trajetória desafiadora e conquistou seus sonhos com seu esforço e dedicação. Quer conhecer um pouquinho mais sobre nossa campeã da categoria Handstripping do Groom Brasil 2023? Confira nosso bate-papo.Revista Groom Brasil: Conte um pouco sobre sua infância, história de vida…
Pamela Borguesi Lopes: Nunca falei disso para ninguém. Fui criada no sítio, na roça mesmo. Venho de uma família muito simples e de um lugar maravilhoso. Nasci em Andradas-MG e meus tios e avós mexiam com gado, leite e plantação. Então sempre tive essa vivência no sítio. Me lembro que meu avô ia para a cidade para comprar sal, açúcar, farinha e coalho, pois fazíamos queijos. Tudo que a gente tinha era produzido na roça. Me lembro que gostávamos muito de pirulito e era minha avó quem fazia, queimando o açúcar e nos dando para chupar na colher. Sempre fui grata a tudo isso. Cheguei a trabalhar na roça com meu pai, ajudando no rancho, no café, a cortar capim etc. Eu era muito feliz. A gente brincava de nadar nos açudes, andávamos de charrete, de cavalo pelas estradas, pescávamos. Eu vivia com martelo na mão porque gostava muito de fazer casa na árvore. Era uma criança livre, tinha muita imaginação, porque não tínhamos brinquedos.
Quando tinha 2 anos e meio, fui mordida por um cão, mas isso não me impediu de gostar dos animais. O cão avançou em mim e mordeu a minha cabeça, orelha e boca, até hoje não escuto muito bem e tenho marcas do ataque. Mas mesmo tendo sofrido este acidente, não parei de amar os animais e os cães.
Só vim morar na cidade depois que me casei com o Vanderlei. Antes disso, trabalhei na cidade, mas ainda morando no sítio, como vendedora, e também, em um pet shop, que foi como eu conheci e entrei no mundo do grooming. Tive um acidente grave de moto, quando trabalhava na cidade, em que fissurei a coluna e me recuperei de forma milagrosa, que nenhum médico acreditou.
Nunca desisti dos meus sonhos, sempre corri atrás do que queria. Sempre fui muito dedicada e desde quando comecei a tosar, via as revistas Groom Brasil no pet shop e sempre quis um dia sair na capa. Eu amo a minha profissão. Além de valorizar a minha técnica e me valorizar, essa capa também é uma forma de gratificar a minha família também. É o diploma que eu nunca dei para a minha mãe.
RGB: Como e quando o grooming entrou na sua vida?
Pamela: Como minha avó tinha muitos gatos e animais, eu era encarregada de levá-los à clínica veterinária. Por ter esse vínculo com a clínica, um dia, a dona me chamou para trabalhar com banho e tosa. E esse convite despertou em mim uma certa vontade de fazer isso, e aceitei o convite. Comecei a fazer banho sem curso mesmo. Depois de um tempo comecei a fazer cursos, ame profissionalizar. Em 2009 fiz meu primeiro curso. Depois disso sempre me coloquei em desafios e nunca mais parei de estudar.
RGB: Há quanto tempo tem seus negócios?
Pamela: Comecei meu próprio negócio em 2011, em uma sociedade com meu marido, o Vanderlei Lopes, logo quando nos casamos. No início, ele ainda trabalhava em uma escola e eu trabalhava em Serra Negra sozinha, em casa. Comecei a fazer os cães na lavanderia da minha casa, e o negócio foi crescendo. Deus foi sempre muito glorioso com a gente. Sempre pôs as mãos. Como ninguém me conhecia, porque acabava de chegar na cidade, o início foi difícil. E sempre quis ter essa independência do meu marido e me destacar pelo meu trabalho. O negócio cresceu mesmo quando comecei a fazer a cachorra de uma manicure. Sempre fazia um algo a mais na cachorra dela para chamar a atenção e despertar o interesse e curiosidade das clientes dela, do salão. Então fazia trancinhas, coisinhas diferentes. Quando chegou no ponto que não dava mais conta de fazer os cães em casa, o Vanderlei saiu do trabalho de Campinas-SP e abrimos o nosso negócio, na nossa garagem, mas com mesas de tosa, banheira, com mais equipamentos, de forma mais organizada e bonita. Nossa primeira aluna veio fazer curso com a gente na nossa lavanderia. Deus sempre colocou a mão em cada momento. A gente sempre teve muito pé no chão e fomos aos poucos, e sempre muito confiantes de que daria certo.
RGB: Como definiria o mercado de banho e tosa na região em que atua, na sua cidade? Quais as particularidades dele?
Pamela: O mercado de banho e tosa na minha região tem se mostrado bastante diversificado, com uma variedade de estabelecimentos que oferecem desde os serviços mais básicos até opções mais especializadas, como banho e tosa para raças específicas, uso de produtos orgânicos, serviços de spa, entre outros. Além disso, muitos estabelecimentos têm investido em oferecer um ambiente acolhedor e seguro para os pets, buscando proporcionar uma experiência positiva tanto para os animais quanto para seus tutores. Há também uma preocupação crescente com a utilização de produtos seguros e adequados para cada tipo de pelagem e pele dos animais, o que tem se tornado uma particularidade importante desse mercado na região.
Na minha cidade nosso público é flutuante, por Serra Negra ser uma cidade turística. Tenho também muitos clientes que vêm de fora, que nos procuram por conta das nossas técnicas diferenciadas. Tenho clientes que viajam 3 horas para fazer o hand stripping no seu cão, ou que vêm de São Paulo para fazer o Bichon Frisé conosco. Muita gente liga pedindo profissional qualificado na área, que ainda está em falta. Embora tenhamos muitos profissionais qualificados na região, ainda não supre a demanda. Hoje os tutores têm adquirido raças específicas e estudam sobre elas, e querem entregar o cão na mão de uma pessoa que conheça sobre a raça. Então, se você passa uma informação correta para o cliente, sobre a melhor maneira de se tosar e cuidar da pelagem daquela raça, você passa também confiança e o conquista.
RGB: Como você entrou no mundo do hand stripping e treinou para aprimorar esta técnica?
Pamela: Comecei a fazer hand num projeto internacional de educação, o PGI, em que fiz um “antes e depois” de um Cairn Terrier pela primeira vez. Foi nesse momento que tive a primeira experiência com faca, com pelo duro. Para este dia, fomos ao canil Esplêndido, do Roberto, e fiquei apaixonada pela técnica.
Como muitos groomers, a gente tinha muito preconceito do hand stripping achando que a técnica machucava o cão, e não é nada disso. Hoje batalho para tirar essa imagem negativa da técnica. Quem vem fazer curso comigo, mostro que as facas de hand servem como um pincel de maquiagem, para dar finalização, dar textura, brilho, coloração e renovar os pelos. Você não está machucando o cão, está renovando a pelagem dele. Tirando a pelagem que estava velha e a renovando.
Em 2017 tive a oportunidade de ter uma fêmea de Fox Terrier do canil Hamptour Court e precisava colocar pelo nela, para fica bonita, brilhante, com pelo duro e ter aquela coloração viva. Desde então fiquei tentando estudando com esta cachorra. Me deslocava para Campinas todo mês com a Serena estudar com o Sergio Villasanti, que foi meu professor por muitos anos. Chegou um momento em que ele disse que não conseguia dar a finalização do acabamento do hand stripping, o que foi muito honesto da parte dele. Assim, ele me indicou uma pessoa para fazer aula, que era a melhor: a Livia Krainer, que cuida dos cães do canil Hamptour Court, e que hoje, para mim, é mais que uma mãe. Ela se tornou uma pessoa muito especial na minha vida.
Em 2020 tive a oportunidade de ir aos Estados Unidos aprender com a Livia. Para ter mais vivência, fazer mais cães. E quebrar um pouco do mito sobre o hand sripping. Tive a oportunidade de ir mais vezes aos Estados Unidos, sempre aprendendo cada vez mais, sempre uma coisa nova. Cada cachorro tem a sua particularidade. Às vezes você tem a técnica, mas é importante também conhecer o cão.
Sempre tive o sonho de ir para Montgomery, que é a maior especializada de terriers dos Estados Unidos, e consegui conhecer. Inclusive preparei cães para se apresentarem lá, e foi maravilhoso. No Brasil a gente não tem tantas raças de pelo duro, assim, quando vamos para fora, conseguimos ver e preparar raças diferentes. E tudo isso agregou muito na minha trajetória.
RGB: Fale um pouco do trabalho feito no Groom Brasil 2023, que te fez levar o título máximo da categoria Hand stripping.
Pamela: Na verdade sempre batia na trave do Groom Brasil (risos) e vencer na Hand stripping era algo que almejava muito. Venci com o Fox Terrier Pelo Duro Walker, do canil Hampton Court, do Vitor Malzoni. Já tinha pegado este cão antes e queria conseguir fazer o pelo dele. O Walker está comigo há 4 anos e meio, já fechou campeonato americano, é um cão maravilhoso, e é muito especial, extremamente mimado, amoroso e lindo. Ele apronta várias coisas (risos), mas é extremamente amoroso. O Walker me proporcionou muita coisa e graças a ele, cheguei aonde cheguei. Quando a gente treinava em casa, sempre fazia carinho nele, para que fosse gostoso para os dois. Hoje ele sente prazer em ficar na mesa comigo.
No dia da competição, comecei a preparar o Walker de madrugada. Dei uma boa volta com ele, para deixá-lo à vontade. Andei bastante com ele, deixei ele sujar as patas, caminhamos bastante, um conversando com o outro. Quando chegamos na loja, fiz o banho, lavei as patas, tirei um pelo ou outro na parte da tosa higiênica, barriguinha, corte de unha, limpei os ouvidos, voltinha do ânus, tudo isso eu deixo pronto para competir. O meu material estava todo preparado já. Essa madrugada que tivemos juntos, era mais para me dedicar a ele, para me conectar com ele. O mais importante para mim antes da competição é deixá-lo bem. Porque se o cão não está bem, não tem como mostrar um trabalho bem-feito, ele é a minha estrela. No hand a gente precisa de textura para poder competir. E essa preparação deve ser feita meses antes. Para obter textura precisamos fazer uma manutenção no cão, para que ele tenha as patas brancas e não amareladas, então tem que fazer um certo tempo antes da competição. No dia do Groom Brasil, o preparei com muito cuidado e carinho. No final da competição, gosto de montar bem as minhas patas e de fazer uma leve maquiagem que acho que é um diferencial.
RGB: Você entrou no mundo das competições há quanto tempo? No Groom compete há quantos anos? Por que gosta tanto do hand stripping?
Pamela: Esta é uma pergunta difícil, porque me fez sentir velha (risos). Comecei a competir no Groom Brasil em 2015, com um Poodle na categoria Novos Talentos. E desde 2019 estava tentando chegar no pódio da Handstripping. Já competia antes disso, ganhei primeiro lugar iniciante na Copa Bichon Frisé. Sempre fazia tosa com tesoura antes, com hand foi a partir de 2019 mesmo, que comecei a competir.
O hand foi uma paixão que encontrei no mundo do grooming. Nele, você tem que olhar o cão, e conhecer a raça. E passar pela sua mente o trabalho que pode fazer e sentir no seu coração. Em seguida, pelas suas mãos, você vai transmitir tudo isso. O hand tem um ciclo, de observar, pensar, sentir e amar. Só assim você vai conseguir transmitir seu trabalho.
Como sou mulher, o hand exige bastante, pois é um esforço de repetição no braço direito, que já me fez ter diferenças em meu corpo. Tenho um seio diferente do outro, por exemplo. Já fiz até cirurgia para tentar corrigir, mas não adianta. O médico diz que tenho que parar. Mas o hand é algo que eu jamais vou deixar de fazer mesmo assim. O hand é uma mágica que você faz, você transforma o cão, dando cor, textura e coloração nele. Me conecto quando estou fazendo essa tosa, claro que também tenho prazer em fazer a tosa bebê na loja, mas no hand realmente me conecto, é gratificante e prazeroso.
Além do mais, hoje temos muito material bom para ser utilizado nesta técnica, então temos que aproveitar dos equipamentos que favorecem e agilizam o nosso trabalho.
RGB: Quais foram as suas principais conquistas no mundo das competições?
Pamela: Em 2015 ganhei a Copa Bichon. Fui campeã na categoria Profissional no Maste-groom em 2021 e 2022. Bati na trave do Groom Brasil várias vezes (risos). Na pandemia ganhei o campeonato da Ecopet (online), do Peru. Fui vice num campeonato da Ásia, online também, com muitos competidores. Participei de vários campeonatos do Sérgio Villasanti também. Os do Douglas ganhei vários no professional, fui Best in Show nele também. Mas sempre competi porque almejava conseguir a capa da revista Groom Brasil e o Groom foi o campeonato que mais demorei para conquistar o pódio. Em 2023 estava inscrita no Mastergroom, mas não competi, pois não estava muito bem. Estava desanimada com o hand, por um motivo em especial. Mas em 2022 e 2023 ganhei a pontuação do hand no Groom Brasil.
RGB: Quais foram as suas inspirações, mentores e pessoas importantes na sua vida que te fizeram chegar até aqui?
Pamela: Minha maior inspiração continua sendo Jesus Cristo, Deus, que é onde eu consigo força e garra, para nunca desistir. Sempre agradecendo. Agora falando de pessoas importantes na minha trajetória, eu vou citar o Sergio Villasanti, que foi a pessoa que mais me ajudou e incentivou desde o inicio. A Livia Kraner e Max Krainer é a minha segunda família. Foi com ela que tive esse fino acabamento, a vivência e a oportunidade de estar nos Estados Unidos. Ela abriu as portas da casa dela para mim. É uma segunda mãe. Também não posso deixar de citar o meu marido, que é meu grande parceiro. Se consegui fazer tudo isso foi graças a ele, que está ao meu lado sempre. Consigo viajar com a cabeça tranquila que ele vai cuidar da nossa filha e dos meus outros cães. Ele é de muito valor para mim, e de muita confiança. Sem o Vanderlei não conseguiria fazer nada do que fiz até hoje. Tem também vários handlers que admiro, de fora e do Brasil, como Leonardo Garcine, Silço, entre outros. Sou muito grata de ver estas pessoas trabalhando. O Max Krainer é um handler maravilhoso. E é muito gratificante ter tido a oportunidade de participar ali com eles.
RGB: E agora, qual é o próximo passo?
Pamela: Em setembro de 2024 vou representar a nossa seleção brasileira de grooming na Bélgica, com emoção, com medo, porém com muita alegria e agradecimento a Deus. Estou na seleção na categoria Handstripping. Estou muito ansiosa e nervosa, mas feliz. Faço parte também do time da Hydra, o que é um orgulho, um mérito, porque são pessoas que reconhecem o nosso trabalho. Faço questão de falar que faço parte deste super time.
RGB: Gostaria de deixar um recado aos groomers do Brasil?
Pamela: Não importa de onde você veio, se já trabalhou na roça ou se já catou latinha. Se tem um sonho, corra atrás. Se faz algo que se identifica, vá atrás daquilo. Olhando para trás, de onde vim, cortando capim com o meu pai, só posso dizer o seguinte: não desista dos seus sonhos. A oportunidade é uma só. Você tem que subir neste ônibus, porque ele pode não fazer esta trajetória de novo. Agarre as oportunidades e nunca desista. O nosso dia a dia é corrido, temos muitos cães para fazer, temos que ganhar dinheiro, porém você tem que se dedicar, investir no que gosta, separar um horário para ter aquele momento, a sua conexão com o trabalho que você quer apresentar a um juiz. Você tem que deixar o medo de lado e ir para cima, sempre!
Por Samia Malas