Empregabilidade no banho e tosa: Desafios e oportunidades

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Embora a profissão de tosador tenha crescido e ganhado destaque no pet shop, é preciso investir mais em capacitação

O tosador de hoje não é mais apenas um “lavador” de pets. Ele ganhou destaque no pet shop e notoriedade entre os tutores de cães – e até de gateiros – se tornando um profissional essencial para promover estética, bem-estar e saúde ao pet.  “Tosar para mim é uma arte. Pegamos o cão com uma forma e o entregamos completamente transformado, devolvendo as linhas anatômicas com simetria, balanço e polimento impecável, deixando o cão esteticamente lindo e o mais próximo possível do padrão da raça”, descreve Adriano Marques, que atua como groomer há 18 anos e é sócio proprietário do Luana Pet Shop, em Natal-RN. “O tosador está entre as profissões que mais cresce no país. É uma oportunidade de emprego. Através de uma simples tosa conseguimos mudar de vida e nos transformarmos em pessoas melhores, e mais capacitadas”, continua.

“O nosso mercado muda a cada semana e o groomer deve se atualizar constantemente”

destaca Sérgio Murilo Villasanti

“O mercado mundial de grooming está em forte crescimento e no Brasil não é diferente. Temos uma seleção brasileira de groomers e instrutores que saem do Brasil para da aula em outros países. Isso é uma conquista enorme para a profissão”, destaca Sidirley Oliveira, instrutor groomer e dono da Pet School Amazon Groom, de Manaus-AM.  

“Através de uma simples tosa conseguimos mudar de vida e nos transformarmos em pessoas melhores, e mais capacitadas”

diz Adriano Marques, do Luana Pet Shop

Adalgisa Silva, que há 2 anos trabalha no Cindy’s Grooming, em Austin, nos Estados Unidos, é uma das tantas provas de que o mundo da tosa é cheio de oportunidades. “Moro fora do Brasil há mais de 18 anos. Já trabalhei em Nova Iorque como faxineira, mas queria mais. Vi no meu amor pelos cães a oportunidade de ser uma profissional competente”, compartilha a tosadora, mais conhecida como Gisa. Após qualificar-se com cursos, hoje, a profissional atua com psicologia, nutrição e estética canina. “Com amor e determinação tudo é possível. Meus trabalhos são voltados para ajudar cães que foram resgatados. Dizem que a felicidade é trabalhar com aquilo que te preenche e trabalhar com grooming de animais para mim é uma terapia”, afirma Gisa, que acaba de se mudar para Orlando, onde vai montar sua segunda filial.  

Vinícius Lieto Facciola, que hoje trabalha na Marin Pet Shop, em São Paulo-SP, é outro exemplo de profissional que se realizou na profissão. “Costumo dizer que fui ‘escolhido’ pela profissão há 20 anos. Tudo começou quando o cão que tinha na época contraiu parvovirose. Ofereci à veterinária meu trabalho em troca do tratamento dele. Após 13 longos dias ele teve alta, mas permaneci naquele pet shop por 6 anos, pois tive a oportunidade de integrar o time dos tosadores como aprendiz”, conta. Ainda segundo ele, apesar de haver muita procura por tosadores, a aptidão é essencial para ingressar no ramo. “Somente gostar de cão ou gato não basta, tem que ter paciência, responsabilidade, agilidade e capricho”, destaca. 

“Vi no meu amor pelos cães a oportunidade de ser uma profissional competente”

revela Adalgisa Silva, do Cindy’s Grooming

Camilla Caetano, proprietária da Escola ArtGroomer, de Campinas-SP, concorda com Vinícius. “Tem que amar o animal, mas tem que ter muita paciência para trabalhar com eles. Quando a pessoa procura fazer o curso de banho e tosa, não tem noção com o que vai se deparar no dia a dia. Vai atender todos os tipos de público”, conta Camilla. “Costumo dizer que o aluno que faz o curso de banho e tosa tem três caminhos a seguir: ir para o mercado de trabalho; abrir seu próprio estabelecimento ou trabalhar por conta em um pequeno negócio próprio, como MEI (Micro Empreendedor Individual)”, continua a groomer, que tem mais de 12 anos de mercado.  

“O dono do pet shop tem que ser parceiro do seu tosador”

comenta Sidirley Oliveira, da Pet School Amazon Groom

Capacitação

“É preciso se especializar sempre, seja através de cursos, seminários, o que o profissional tiver condições de fazer. O tosador que sair da escola e permanecer parado, não vai conseguir crescer e se beneficiar das oportunidades que a profissão pode oferecer. O nosso mercado muda a cada semana e o groomer deve se atualizar constantemente”, destaca Sérgio Murilo Villasanti, o Serginho, renomado groomer brasileiro com quase 40 anos de profissão, de Campinas-SP. Outra dica dada por Sérgio é a participação de concursos de tosa. “Eles são ótimos porque forçam o tosador a estudar para competir. Concursos são importantes também para crescer no mercado, ficar mais conhecido, ganhar certa notoriedade, caso o groomer conquiste alguma premiação”, explica. Por fim, Serginho também aponta a realização de certificações como parte importante do aprendizado e especialização contínua de um profissional da área. “Elas também fazem com que as pessoas estudem mais e sobre assuntos variados”, aponta.

Camilla também ressalta que capacitar-se envolve evitar acidentes de trabalho. “O tosador deve conhecer sobre temperamento de raça para saber lidar com determinados cães. Há muito acidente que poderia ser evitado se houvesse mais conhecimento sobre comportamento”, destaca.    

“Quanto mais experiência você tem, melhor a remuneração nos pet shops, mas o iniciante sofre um pouco no começo”

aponta Camilla Caetano, da ArtGroomer

Elias Monteiro, de Araucária-PR, proprietário da Pet Escola Elias Monteiro, que atua na área há mais de 10 anos, diz que em Curitiba-PR há muita oferta de trabalho e muita mão de obra, mas falta qualificação profissional para os novos que saem da escola. “Eles ainda precisam ser lapidados e capacitados. Por outro lado, os grandes profissionais estão deixando de ser funcionários e estão abrindo o seu próprio negócio. Então, se o iniciante se especializar, tem campo de trabalho”, enfatiza, e finaliza sua argumentação com uma frase do groomer Rubinho Araújo: “Sejamos pessoas fundamentadas e não formatadas”. 

Os irmãos Amilton e Adailton Marques, groomers com 18 anos no mercado de grooming e donos da Salon Star Groomers, de Natal-RN, também apontam a capacitação como a única forma de o mercado valorizar mais os profissionais do setor. “Também é preciso introduzir novos conceitos, novos cortes, pois é uma área que está em constante atualização. As indústrias criaram muitas marcas de cosméticos, equipamentos de alta performance, onde quem ganha são os profissionais, para aperfeiçoar os serviços e oferecer um trabalho de excelência aos pets”, completam.   

“Somente gostar de cão ou gato não basta, tem que ter paciência, responsabilidade, agilidade e capricho”

destaca Vinícius Lieto Facciola, do Marin Pet Shop

Vinícius ainda lembra que o profissional que investe em qualificações a fim de se manter atualizado precisa ter retorno desse investimento. “Produtos específicos que promovem a higiene, textura, volume e/ou caimento das pelagens são necessárias para ter bons resultados. Assim como ter rasqueadeiras com cerdas de acordo a cada tipo de pelagem, tesouras para cada tipo de corte tornando a finalização impecável”, destaca. 

Acesso à informação

Atualmente, o groomer possui muito mais opção para conseguir estudar e se capacitar, até com custo reduzido. “Na internet há lives riquíssimas. Aqueles ‘mestres’ que só víamos nas feiras uma vez por ano, hoje, interagem conosco no Instagram e dão dicas valiosíssimas. As próprias escolas dispõem de estágio e isso é maravilhoso, porque a dificuldade de muitos eram praticar o que estavam aprendendo ao fazer um curso básico”, opina Vinícius.

Serginho ainda aponta um lado positivo do cenário que vivemos hoje, de pandemia, que abriu muitas portas no online. “Muito cursos novos foram lançados no online e por bons profissionais. Quem soube aproveitar a pandemia para se capacitar vai estar muito mais preparado para quando tudo voltar ao normal”, comenta. 

“Se o iniciante se capacitar, se especializar, tem campo de trabalho”

afirma Elias Monteiro, da Pet Escola Elias Monteiro

Elias também é da opinião que a oferta de cursos em modalidades diferentes facilitou bastante o acesso à informação ao groomer. “Temos a internet, vários workshops, cursos práticos de banho e tosa, de padrões de raças, intensivos, então basta querer”, comenta.

Relação pet shop x tosador

A importância do tosador no pet shop é sabida por todo empresário do segmento pet. “Dentro do pet shop o tosador tem uma das funções mais importantes, ele é o coração do pet shop”, ressalta Adriano. Por esse motivo, a relação entre dono de pet shop e tosador deve ser de apoio mútuo, inclusive no fomento da carreira do profissional. Serginho lamenta que a falta de apoio de muitos tosadores em seu local de trabalho seja uma realidade, e um ponto crítico da profissão. “Muitos veem o tosador apenas como mão de obra e não se preocupam com o seu aperfeiçoamento profissional ou em fornecer bons materiais para que ele realize um bom trabalho. Assim, muitos tosadores, que não têm condição financeira para pagar um curso, ficam na mesma para sempre”, lamenta. 

Elias conta que entrou no ramo de banho e tosa por influência familiar e teve a sorte de contar com apoio do dono do pet shop de seu primeiro emprego. “Tinha primos, tios, tias e irmão que já trabalhavam como banhistas e tosadores, além de um tio criador de cães. Aprendi muito com o proprietário do primeiro pet shop que trabalhei, o Cesar Calado (dono do Clube do Bicho), grande criador de Poodle e handler”, compartilha Elias. “Naquela época, a formação de um tosador era trabalhar na rotina do banho e tosa junto com os tosadores que trabalhavam lá, assim, ele já pegava agilidade do dia a dia, aprendia a se fazer as tosas. Grandes tosadores que hoje são donos de lojas foram formados no Clube do Bicho”, ressalta Elias.  

“O proprietário deve entender sobre o banho e tosa para não exigir o ‘impossível’ do tosador”

alerta a groomer Heloisa Knabben Gaertner 

Camilla também destaca que o dono do pet shop deve ser “entendido” do ramo para poder incentivar e até supervisionar o seu negócio de banho e tosa. “Você tem que ter pelo menos um curso de banho e tosa para entender da rotina daquele profissional e até para saber avaliar e direcionar o trabalho dele”, comenta. Essa opinião é compartilhada pela groomer Heloisa Knabben Gaertner, com 15 anos de profissão, de Balneário Camboriú-SC. “O proprietário deve entender sobre banho e tosa para não exigir o ‘impossível’ do tosador”, alerta Heloisa, que ministra aulas particulares em seu pet shop, o Miss Groom, para profissionais e dá palestras como groomer para uma marca de shampoo. A groomer também critica o outro lado, apontando que muitos tosadores também têm o seu trabalho apenas como um emprego, e não vestem a camisa da empresa. “Não colaboram com economia de produtos, ou crescimento do número de clientes. Estão lá pelo salário ou por não ter conseguido algo melhor. Também vejo bons patrões que escutam seus tosadores e os valorizam. O ideal é o patrão ouvir o tosador, mas este, tem que se colocar no lugar do patrão também”, pondera. 

“Faça sempre o seu melhor encantando seu cliente ou o lugar onde você trabalha”

aconselha Georgia Ayres, do Centro de Estética Canina Georgia Ayres

Georgia Ayres, dona do Centro de Estética Canina Georgia Ayres, de São Pedro da Aldeia-RJ, tem 20 anos de experiência em banho e tosa e também vê os dois lados da moeda. “O problema está quando não existe compromisso entre ambas as partes, ou seja, quando o groomer não está disposto a aprender ou mesmo não valorizando seu local de trabalho, e quando os donos de pet shop não valorizam seus groomers, não os incentivando na capacitação profissional e na remuneração e exigindo trabalho abusivo”, diz. “Faça sempre o seu melhor encantando seu cliente ou o lugar onde você trabalha”, aconselha.

Sidirley resume que tosadores precisam ter carácter, respeito, comprometimento e estudar sobre os diferentes assuntos que a profissão exige, desde textura de pelos até anatomia. “É preciso se atualizar e buscar melhorar dia após dia. Os groomers iniciantes têm muitos exemplos para espelhar, de tosadores mais antigos”, aconselha. Segundo ele, há muitas lojas abrindo sem conhecimento do mercado, e logo fecham. “O dono do pet shop tem que ser parceiro do tosador, estar alinhado com ele e dar oportunidades de crescer. Investir no profissional de sua confiança”, diz.  

Pontos críticos

Existem também alguns pontos críticos na profissão que precisam ser sabidos, discutidos e solucionados na medida em que a profissão cresce e se profissionaliza cada vez mais. Serginho aponta a falta de senso crítico de alguns tosadores que aprendem um procedimento ou técnica e o repetem sem estudar mais afundo aquilo ou tentar entender se ele está realmente correto ou se é adequado. “É preciso sempre saber o porque das coisas e entender os fundamentos”, ressalta.  

“Capacitação é a única forma de o mercado valorizar mais os profissionais do setor”

apontam os irmãos Adailton (à dir.) e Amilton Marques, do Salon Star Groomers

Uma outra dificuldade apontada por Camilla é a demora em se conseguir a primeira oportunidade de emprego no setor. “Quanto mais experiência você tem, melhor a remuneração nos pet shops, mas o iniciante sofre um pouco no começo”, afirma.

Os irmãos Amilton e Adailton também apontam a falta de união entre tosadores como algo ruim. “Em determinadas regiões os profissionais são muito desunidos”, lamentam. 

Revolução tecnológica

Outro ponto que conta bastante é o grande salto que a profissão teve em função do investimento da indústria de cosméticos e equipamentos para banho e tosa. “Há 20 anos a realidade era bem diferente. Os equipamentos não tinham a potência que têm hoje, o trabalho era muito mais braçal”, relembra Vinícius. 


Por: Samia Malas